Quem é então esta testemunha que anuncia Cristo?
É aquele que outrora O perseguia. Que maravilha! Eis que o perseguidor de antigamente anuncia Cristo.
Por quê? Será que foi comprado? Mas ninguém poderia persuadi-lo desta maneira. Terá sido a visão de Cristo nesta terra que o cegou? Mas Jesus já tinha subido ao céu. Saulo saíra de Jerusalém para perseguir a Igreja de Cristo, e três dias depois, em Damasco, o perseguidor transformara-se em pregador. Sob que influência? Há quem cite como testemunhas a favor dos seus amigos pessoas do seu partido. Eu, ao invés, apresento como testemunha um antigo inimigo.
Ainda duvidas? Grande é o testemunho de Pedro e João, mas [...] eles eram gente da casa. Quando a testemunha é um antigo inimigo, de um homem que mais tarde morrerá pela causa de Cristo, quem poderá duvidar do valor do seu testemunho? Admiro o plano do Espírito Santo [...]: Ele concede que Paulo, o antigo perseguidor, escreva as suas catorze epístolas. [...] Como não se podiam contestar os seus ensinamentos, permitiu que aquele que fora outrora o inimigo e o perseguidor escrevesse mais do que Pedro e João; é assim que a fé de todos nós pode ser fortalecida.
Com efeito, todos ficaram estupefatos com Paulo: «Não é aquele que nos perseguia? Não terá vindo aqui para nos prender?» (At 9, 21). Não fiqueis surpreendidos, diz Paulo. Eu percebo-vos; para mim «é duro revoltar-me contra a espora» (At 26,14). «Não sou digno de ser chamado apóstolo porque persegui a Igreja de Deus» (1Cor 15, 9); «Ele foi misericordioso para comigo: o que eu fazia, fazia-o por ignorância.» [...]
«A graça de Deus superabundou em mim» (1Tim 1, 13-14).
São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja
Catequese baptismal 10 (a partir da trad. Bouvet, Soleil Levant 1961, pp. 201ss.)
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