Ele é um todo. Carrega consigo o mundo criado. Isto significa que os elementos importantes da natureza perpassam, compõem o próprio ser humano.
Pode alguma pessoa existir sem o ar, sem a água, sem o alimento que vem da terra?
Somos filhos da terra.
Pisamos a mãe terra que já tem 4, 5 bilhões de anos. Somos os seres que respiramos boca a boca com a natureza.
O que pensar de uma terra sem os mares, oceanos, florestas, matas, animais?
Vemos dia-a-dia a contaminação das águas, destruição do verde, a poluição do ar.
Pode-se pensar a vida humana em meio a este caos?
Toda criação do mundo é Eucarística, porque se torna elemento de transformação e de doação.
A comida, com a qual nos alimentamos foi vida que morreu para nos dar vida.
O pão que comemos, um dia foi trigo, que morreu para nos dar vida. O vinho, um dia foi uva. Deixou de ser uva para transformar-se em vida e vida de festa.
Da mesma forma a carne, um animal que morreu, doou-se, tornou-se vida, para gerar mais vida.
O que morreu “ressuscita” em nova qualidade de vida. Vivo, porque algo morreu para me dar vida. Nisto tudo podemos dizer que viver é um movimento eucarístico.
Diz Ioannis Zizionlas: “todos os fiéis que participam da liturgia levam consigo o mundo.
Não levam somente a si mesmos com as próprias incapacidades e paixões, mas levam sua relação com o mundo natural, com a criação”... os fiéis não vão sozinhos à igreja, levam consigo os dons da criação: o pão, o vinho e o óleo.
Santo Agostinho dizia que Deus nos doou dois livros: a Bíblia e a Natureza.
É preciso compreender e cuidar bem da natureza, que é vida, para poder entender a Bíblia.
Precisamos tomar consciência do caráter sagrado da vida e levar em conta que toda a matéria deste mundo será resgatada pela redenção trazida por Jesus.
É São Paulo que assim se expressa: “A própria criação espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8, 19). “Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele” (Rm 8, 28).
No entanto, o ser humano é um predador, isto é, destrói, mutila, queima, mata, polui, muitas vezes com a força da ganância e do querer tudo para si.
Usa e abusa dos recursos como eles fossem inesgotáveis. Trata a natureza como um objeto qualquer.
No entanto, a natureza é a casa para todos.
Mas, como pensar uma casa para todos se, no Brasil existe cerca de 15 milhões de pessoas sem terra? No entanto, 44% das terras produtivas rurais estão nas mãos de apenas 1%.
A Eucaristia simboliza o acesso de todos à comida e à bebida, aos bens da vida, irmanados em torno da mesma mesa e unidos sob as bênçãos de Deus, nosso Pai.
Hoje, parece melancólico ou simplesmente moda andar por trilhas, caminhar por lugares virgens, por praias desertas... O mundo em que vivemos, a modernidade com seu progresso, parece ter dado qualidade de vida, por outro lado nos deixa o barulho dos meios de comunicação, da violência, da desigualdade, sem a liberdade de ir e vir, riscos de toda sorte...
Em meio a este mundo caótico é preciso resgatar a riqueza simbólica da Eucaristia:
• Sobre o altar estão os frutos da terra, flores, plantas, o pavio do algodão e a cera de abelhas das velas e, principalmente, o pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho humano.
Para cada seguidor de Jesus, que se alimenta da Eucaristia, necessita em primeiro lugar buscar caminhos de reconciliação, tomar consciência de que a terra é mãe-geradora de vida, não para alguns filhos, mas para todos, com os mesmos direitos.
• A água se faz presente sobre o altar lavando as mãos do celebrante, bem como uma pequena gota é colocada junto ao vinho. Simboliza a natureza humana que se transforma no divino sangue de Cristo.
Para cada seguidor de Jesus, a água, na Eucaristia, pede por salvação e reclama nossa atenção.
A sensibilidade que provém do coração de Deus e portanto, passa também pelo nosso coração, nos responsabiliza e nos empenha para salvar a água, para salvar o ser humano.
• O ar está presente no altar sem nós pensarmos que ele existe. O ar é alimento importantíssimo. Sem o qual a nossa vida não resistiria.
O sopro do Divino Espírito, a ruah, envolve todo o ambiente durante nossas celebrações.
Cada seguidor de Jesus, não pode contentar-se em ver o ar sendo poluído, e atacando o ser humano por todos os poros, sem indignar-se e pôr-se à luta para maior saúde do ar.
Que a celebração da Palavra e da Eucaristia nos faça reagir diante da degradação produzida pelos próprios humanos.
Olhando para a natureza que se dispõe a ser um banquete para as pessoas, qual eucaristia a ser consumida, da mesma forma precisamos estar dispostos a protegê-la e amá-la.
Só há comunhão com Jesus se houver compromisso com o cuidado da vida, e vida de qualidade para todos e todas.
Questiona-nos João em sua carta: “Quem não ama seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4, 20).
Ir. Marlene Bertoldi
com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
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