Eis uma pergunta surpreendente, paradoxal, difícil.
Deixemos que ela se esclareça através das questões que nos põe:
Afinal o que é a sabedoria humana?
E se a definíssemos como a arte de bem viver para ser feliz? A loucura seria então correr para o fracasso, para a infelicidade. Para além disso, é necessário saber situar a felicidade, e descobrir também com realismo que não se pode ser feliz sozinho, sem os outros.
E por que razão se refere aqui S. Paulo a essa sabedoria de forma tão negativa? Porque foi em nome da sabedoria humana que Jesus foi condenado: ele perturbava a ordem estabelecida, abalava as hierarquias sociais, obrigava a ter uma ideia diferente sobre Deus, surgia como um louco politicamente perigoso.
Onde se encontra então a verdadeira sabedoria?
S. Paulo responde: na linguagem da cruz – «linguagem» aqui quer dizer que já nos distanciamos um pouco deste acontecimento e, trata-se para lá da natureza crua da cruz, do sentido que ela toma no contexto da vida de Jesus e depois à luz da sua ressurreição, tudo isso dentro do grande projeto de aliança de Deus conosco.
Por que razão a cruz – o pior dos falhanços, - fracassos-, a perfeita loucura, uma vez que Jesus não fez na verdade nada para lhe escapar – é a linguagem da sabedoria de Deus? Porque ela revela o poder do amor e mostra até onde vai o dom de si mesmo de Jesus. Ela era a recusa de Deus pelos «sábios», e Deus torna-se perfeitamente solidário com os «loucos» que somos nós. Ela era a condenação de Jesus como blasfemo, e Jesus faz dela o perdão daqueles que o crucificam e o retorno do ser humano a Deus.
Que havemos de fazer para que a linguagem da cruz se torne cada vez mais o critério da nossa sabedoria humana, para que a nossa ideia de felicidade se ilumine à luz da loucura do amor de Jesus, e para que a nossa arte de bem viver se ajuste a este dom total de si próprio que é a vida de Jesus – e a sua morte?
Com minha pobre benção.
Pe. Emílio Carlos Mancini. +
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