S. Mateus 7,7-12.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos.
Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir.
Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra?
Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente?
Ora bem, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.»
«Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.»
A oração é uma arma poderosa, um tesouro indestrutível, uma riqueza inesgotável, um porto ao abrigo das tempestades, um reservatório de calma; a oração é a raiz, a fonte e a mãe de bens consideráveis. [...] Mas a oração de que falo não é medíocre nem negligente; é uma oração ardente, que brota do sofrimento da alma e do esforço do espírito. Eis a oração que sobe aos céus. [...] Escuta o que diz o escritor sagrado: «Ao Senhor, no meio da angústia, eu clamo e Ele me ouve» (Sl 119,1). Aquele que ora assim na sua angústia poderá, após a oração, desfrutar na sua alma de uma grande alegria. [...]
Por «oração» entendo não aquela que se encontra apenas na boca, mas a que brota do fundo do coração. Como as árvores cujas raízes estão profundamente enterradas não se quebram nem são arrancadas mesmo que os ventos desencadeiem mil assaltos contra elas, porque a suas raízes estão fortemente presas nas profundezas da terra, também as orações que vêm do fundo do coração, assim enraizadas, sobem ao céu com toda a segurança e não são desviadas por nenhum pensamento de falta de segurança ou de mérito. É por isso que o salmista diz: «Do fundo do abismo, clamo a vós, Senhor» (Sl 129,1). [...]
Se o fato de contares aos homens os teus infortúnios pessoais e descreveres as provações por que passaste traz algum alívio à tua desventura, como se através das palavras se exalasse uma brisa refrescante, com muito mais razão se falares ao Senhor dos sofrimentos da tua alma encontrarás consolo e conforto em abundância! De facto, muitas vezes os homens dificilmente suportam aqueles que vêm lamentar-se e chorar para o pé de si: afastam-se e repelem-nos. Mas Deus não age assim; pelo contrário, Ele faz com que te aproximes e abraça-te; e mesmo que passes o dia inteiro a narrar os teus infortúnios, ficará ainda mais disposto a amar-te e a acolher favoravelmente as tuas súplicas.
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homilias sobre a incompreensibilidade de Deus, n° 5
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