Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás para tirar o argueiro da vista do teu irmão». Quer isto dizer: afasta primeiro, para longe de ti, o ódio: poderás então corrigir aquele a quem amas. E Ele diz «hipócrita» justamente. Censurar os vícios deve ser a atitude própria dos homens justos e bondosos. Ao fazê-lo, os homens maus usurpam um papel; fazem lembrar comediantes que escondem por detrás de uma máscara a sua identidade [...].
Quando tivermos de censurar ou corrigir, façamos com escrupulosa preocupação esta pergunta a nós próprios: será que nunca cometemos esse erro? E ficámos curados dele? Mesmo se nunca o tivermos cometido, lembremo-nos de que somos humanos e de que podíamos tê-lo cometido.
Se por outro lado o tivermos cometido no passado, lembremo-nos da nossa fragilidade para que a benevolência e não o ódio nos dite reprovação ou censura.
Venha o culpado a tornar-se melhor ou pior com a nossa censura benévola – pois o resultado é incerto , ficaremos ao menos seguros de que o nosso olhar se manteve puro.
Mas se na introspecção descobrirmos em nós o mesmo defeito que pretendemos repreender, em vez de admoestar com reprimendas o culpado, choremos com ele; não lhe peçamos que nos obedeça, mas que partilhe o nosso esforço.
Comentário feito por :
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Explicação do Sermão da montanha, 19 (a partir da trad. DDB 1978, p.134)
Nenhum comentário:
Postar um comentário