Deus se oferece, e exige de nossa parte pelo menos a correspondência da aceítação. Deus se dá totalmente e o mínimo que quer em troca é que lhe estendamos as mãos. Deus pede a Israel que o reconheça como único.
Com Cristo, Deus nos convida a reconhecê-lo como Pai.
Estes os termos da aliança que vale ainda hoje. “A Igreja afirma que todos os que são fiéis a Cristo, filhos de Abraão segundo a fé, são incluídos na vocação deste patriarca e que a salvação da Igreja é misteriosamente prefigurada no êxodo do povo eleito da terra da escravidão” (Nostra aetate 4).
Mas, para o amor, os contratos são estreitos. Deus se dá sem reservas, mas espera que o homem dê uma resposta igualmente generosa e radical.
“O amor de Deus não é apenas benevolência que deseja a nossa felicidade. Não é o interesse do dono da casa em tornar agradável a permanência dos hóspedes.
Mas é um amor que cria. Um amor como o que o artista dispensa à sua obra. Despótico como o do dono para com o seu cachorro.
Providente como o do pai para com o filho. Ciumento e inexorável como o amor entre um homem e uma mulher” (G. 5. Lewis).
Madre Teresa de Jesus não discute com Deus. Concede-lhe tudo. Imagina as provações mais duras e dilacerantes para mostrar-lhe a sua disponibilidade.
O homem possui de seu apenas o sofrimento. O resto já pertence a Deus.
E Madre teresa de Jesus oferece todo o sofrimento possível: o da carne e mais ainda o do espírito, pois este é o mais valioso.
“Farei com muita freqüência atos de abandono a Deus, pronta a suportar tudo o que há de mais penoso nesta terra, ou seja, privação dos prazeres sensíveis, aridez, angústias, desolações, calúnias, desprezos, injúrias, ignomínias”
Uma relação completa. Um ramalhete de espinhos para oferecer a Deus.
Como a oferta de Cristo na cruz. Uma prodigalidade além dos limites do possível.
Como Madre Henriquieta não sabe mais o que inventar. O que ofereceu a Deus ainda lhe parece pouco, e acrescenta: “Contento-me não só em ser abandonada pelas pessoas às quais me sinto estreitamente unida e ternamente afeiçoada, mas também em ser por elas censurada, escarnecida, desprezada. e mesmo perseguida e caluniada, e por isso obrigada a viver isolada das pessoas e condenada a passar os meus dias no canto mais afastado da casa” (V. H., p. 165).
Um programa que, felizmente, Deus não leva em consideração. No último instante, Deus segura o braço de Abraão que estava prestes a sacrificar lsaac. Mas houve a oferenda: uma obediência cega e confiante. E esta Deus a aceita e recompensa.
Assim, Henriqueta desabrocha para o amor de Deus. O seu sim a realiza, ao mesmo tempo que parece andá-la. Um sim que a torna um Nada e por isso pronta para receber o Tudo.
Agora, entre Henriqueta e Deus se estabelece um diálogo afetuoso, confiante, feito não de sons, mas de olhares.
Para além da razão, para além dos sentidos. “Senti-o dizer-me claramente, sem saber de que modo: Não me basta a tua resignação, quero que sejas feliz... não via, nem sentia nada sensível, somente percebia em mim uma grande certeza de que eram palavras de Deus” (V. H., p. 218).
As asperezas da fé e do deserto floresciam em colóquios de amor.
Com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
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