Que a teus olhos todos os homens sejam iguais para os amares e os servires da mesma forma.
Poderás assim levá-los a todos ao bem.
Não partilhou o Senhor a mesa dos publicanos e das mulheres de má vida, sem afastar de Si os indignos?
Do mesmo modo, concederás tu benefícios iguais e honras iguais ao infiel, ao assassino, tanto mais que também ele é teu irmão, pois participa da única natureza humana.
Aqui está, meu filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia pese sempre mais na tua balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que Deus tem para com o Mundo.
Quando percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos os homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele é puro de coração (Mt 5, 8) [...].
O que é esta pureza?
Em poucas palavras, é a misericórdia do coração para com o universo inteiro.
E o que é a misericórdia do coração?
É a chama que o inflama por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelos animais, pelos demónios, por todo o ser criado.
Quando o homem pensa neles, quando os olha, sente os olhos encherem-se das lágrimas de uma profunda, uma intensa piedade que lhe aperta o coração, e que o torna incapaz de ouvir, de ver, de tolerar o erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas.
É por isso que, numa oração acompanhada por lágrimas, devemos sempre pedir tanto pelos seres desprovidos de fala como pelos inimigos da verdade, como ainda pelos que a maltratam, para que sejam salvos e purificados. No coração do homem nasce uma compaixão imensa e sem limites, à imagem de Deus.
Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul
Discursos ascéticos, 1.ª série, n.º 81 (a partir da trad. AELF; cf trad. Touraille, DDB 1981, p. 395)
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