A Igreja, sendo casa da Palavra, não a pode reservar para si.
O tesouro encontrado e para rentabilizar, colocando-o a circular por todas as estradas que o homem percorre.
Importa, acima de tudo, que a Palavra, como fonte de vida que renova as águas estagnadas das nossas vidas, chegue a todos para que todos tenham vida em abundância ( Jo 10,10).
É a Palavra que pode dar novo alento as nossas famílias, umas em crise, outras a procura de identidade, outras em provação.
A Palavra de vida é palavra de aliança, de amor, de fidelidade, de esperança na prova.
As nossas famílias são chamadas a ler a Escritura no seu lar para que sejam verdadeiras estradas que levam novos e mais velhos ao encontro da Palavra que salva.
A família necessita de se estruturar segundo o Evangelho da Família, da Boa Nova que é dom para a família.
É a Palavra que pode iluminar os espaços escolares, onde os jovens se preparam para a vida. A Palavra não é apenas para os crentes mas é capaz de iluminar todo o homem que vem a este mundo (Jo 1,9).
A escola é este espaço onde a personalidade se estrutura e os valores evangélicos devem ser referências que compromete e marca profundamente as opções.
Não se pode andar a deriva e o mundo de amanhã precisa de uma formação onde um humanismo integral, nas pegadas de Cristo, garante o seu futuro.
É a Palavra que pode constituir uma fonte de inspiração para o discernimento de justas soluções dos problemas candentes no campo do trabalho e empresarial; e ainda a Palavra que pode abrir caminhos inéditos na crise financeira que se afirma, de dia para dia, cada vez mais global e planetária.
Não sendo a Escritura um livro de receitas para problemas imediatos, não deixa de poder ser uma referência para o nascimento do homem novo que pode renovar a sociedade e o mundo.
E algo de novo, no panorama da vida, parece estar a nascer. Vem-me ao pensamento as palavras de Isaías: Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora; não penseis mais no passado, pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer; não o notais?
Com a conversão, a metanóia a que a Palavra sempre nos apela, muitos dos problemas, com que a humanidade hoje dramaticamente se debate poderão dissolver-se como que por milagre. A fé, que vem da pregação, pode mover montanhas!
A Escritura constitui, ao longo dos tempos, como que um código em que as múltiplas expressões culturais - desde a pintura, a arquitetura, a escultura, a literatura, a música, as artes dramáticas, ao cinema... se inspiraram.
Desconhecer a Bíblia é, com freqüência, privar-se de uma referência indispensável na interpretação adequada e correta de muitas criações artísticas.
Estas foram, na história da Igreja que se confunde, em muitos casos, com a história cultural dos povos, uma Bíblia paperum [Bíblia dos pobres].
Na pedagogia dos artistas cristãos, em tempos em que a leitura era reservada aos letrados, o povo simples aprendeu a Escritura na azulejaria das igrejas, na pintura, na escultura, no teatro, na música.
Em muitos lares de outrora, liam-se as histórias bíblicas ao serão: enquanto os mais velhos se entretinham a volta da fogueira, eram os mais novos, que andavam na escola, a ler para todos estes textos que marcavam indelevelmente, pela sua beleza, dramatismo ou jovialidade, a emoção e o coração das famílias.
Noutra dimensão, a Escritura é chave de leitura de obras filosóficas, de literatura, de cinema...
A arte, em grande parte das suas expressões, não fica indiferente face ao acontecimento religioso, inscrito nos textos bíblicos, sejam poéticos sejam narrativos e toma posição quer para enaltecer o mistério encerrado nestas histórias quer para questionar a sua recepção ao longo dos tempos na doutrina das instituições.
Num e noutro caso, o desconhecimento da Escritura traduz-se num empobrecimento cultural, numa privação de uma referência, dum intertexto indispensável para uma justa hermenêutica de produtos da criação artística.
A palavra, que é vida, deseja caminhar por onde o homem caminha. Se hoje, geograficamente, o mundo está tão próximo, que distância não existe, por vezes, entre vizinhos!
Cabe a palavra vencer estas barreiras e da interdependência real entre povos e nações construir uma rede de solidariedade, porque somos todos filhos dum único Pai e chamados a ser uma grande família.
Os modernos meios de comunicação são uma extraordinária oportunidade para que a Palavra chegue a todos, mesmo aqueles que, por opção ou por negligência, não podem contatar com a Palavra proclamada na liturgia.
O recurso, com competência e inteligência, a estes meios é um imperativo da nova evangelização, que é o anúncio de Cristo, ontem, hoje e sempre mas com novo ardor e com aquela compaixão do Mestre ao ver as multidões como ovelhas sem pastor.
Um Apelo ao Silêncio para a Escuta Fecunda da Palavra:
«Se Jesus é a única Palavra de Deus, enquanto plenitude da revelação do rosto do Pai, enquanto caminho, verdade e vida, é no encontro com Ele que o homem é iluminado. No seu dia-a-dia, o homem é bombardeado por palavras ocas, que o tentam seduzir e que, mais tarde, o deixa abandonado a insatisfação, ao vazio e, por vezes, ao desespero.
A Palavra de Deus não é como estas palavras barulhentas; é no encontro, no diálogo, na escuta e no silêncio que Deus Se revela e manifesta o Seu amor.
O silêncio da escuta como o daquela mulher, Maria, aos pés de Jesus (Lc 9,38-42) é já uma antecipação da plenitude quando as palavras derem lugar à visão beatífica e Deus for tudo em todos.
Só a atitude de silêncio permite ouvir Deus que fala hoje.
Daí que a Igreja necessita de criar estes locais de "deserto" e os cristãos necessitam de "fugir" do barulho das muitas mensagens que os agridem. Deus, envolvido no silêncio do Seu mistério íntimo, será a última palavra a comunicar ao mundo e este não necessitará de procurar noutro lugar.
Sem silêncio, a voz da Igreja confunde-se com tantas outras que mostram soluções e caminhos mais sedutores onde a felicidade é prometida para o imediato, mas sem consistência e profundidade.
com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
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