E acontece que, adorando o nascimento do nosso Salvador, celebramos a nossa própria origem.
Com efeito, quando Cristo veio ao mundo, começou o povo cristão: o aniversário da cabeça é o aniversário do corpo.
Ora, que mais podemos encontrar nos tesouros da generosidade divina que seja tão adequado à dignidade da festa de Natal como esta paz proclamada pelo cântico dos anjos aquando do nascimento do Senhor (Lc 2, 14)?
Pois é a paz que gera filhos de Deus, que favorece o amor, que produz a amizade, que é o repouso dos bem-aventurados, a morada da eternidade.
A sua obra própria, o seu particular benefício, consiste em unir a Deus aqueles que separa deste mundo. [...]
Assim, pois, aqueles que «não nasceram do sangue nem da vontade carnal, nem da vontade do homem, mas de Deus» (Jo 1, 13) devem oferecer ao Pai a vontade unânime dos filhos artesãos da paz.
Todos aqueles que se tornaram membros de Cristo por adoção devem acorrer a venerar o primogênito da nova criação, Aquele que veio, não para fazer a Sua vontade, mas a Daquele que O enviou (Jo 6, 38).
Os herdeiros adotados pela graça do Pai não são herdeiros divididos nem separados; têm os mesmos sentimentos e o mesmo amor.
Aqueles que foram recriados segundo a única Imagem (Heb 1, 3; Gn 1, 27) têm de ter uma alma que se assemelhe a Ele. O nascimento do Senhor Jesus é o nascimento da paz.
Como diz São Paulo, «Ele [Cristo] é a nossa paz» (Ef 2, 14).
São Leão Magno (?-c. 461), papa e Doutor da Igreja
6º sermão para o Natal, 2, 3, 5 (a partir da trad. bréviaire; cf SC 22 bis, pp. 139ss.)
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