21 DE DEZ. – A CHAVE
Tire do seu coração todo o pensamento pecaminoso, todo o juizo temerário.
Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós.
E porque vês o argueiro no olho do teu irmão, e não repara na trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?
Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Jesus o Cristo (Mateus 7, 1-5)
Isso me faz pensar em quão superficial vão as nossas interpretações sobre as coisas ou a que ponto vai o nosso esforço em manter essa aparência da perfeição (mesmo que inconscientemente), como algo realmente que se almeja acima de qualquer coisa, acima inclusive da nossa real satisfação em se viver algo.
Fico admirado também com a reação divergente das pessoas, há aquelas que realmente se sensibilizam com a causa e sofrem juntas; há aquelas que entendem mas demonstram mais frieza; e há também as que lá no fundo se sentem felizes em ver que algo não saiu bem para o outro, porque não são capazes de cultivar seu próprio jardim; isso fora aquelas que explicitamente e sem disfarce se alegram com a dor dos outros.
Em todo caso fica aqui o meu registro um pouco tardio, é verdade, sobre esse fato, é que algumas coisas só são possíveis de serem transmitidas quando se olha olho no olho e tenta ver lá dentro algo que não seja o seu reflexo, aí é quando você enxerga o outro, sem espelho através do mar.
Chama-se de juízo temerário o julgamento apressado, arrogante, baseado em impressões, em informações de segunda mão, em maledicência e no “ouvi dizer”.
Para o julgamento não ser temerário, a sua motivação precisa ser trazida à tona e examinada.
Por trás do juízo podem estar a inveja, o ciúme, a competição e o desejo de vingança.
Em outras palavras, o auto-julgamento deve preceder o julgamento alheio.
O mandamento de Jesus no sermão do Monte é claro: “Não julguem os outros para vocês não serem julgados por Deus” (Mt 7,1).
Se as Escrituras desencorajam o juízo temerário, elas encorajam o discernimento espiritual, sem o qual corre-se o risco de chamar o mal de bem e o bem de mal, a escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o amargo de doce e vice-versa (Is 5,20).
Discernimento espiritual nada mais é do que distinguir com a maior precisão possível uma coisa da outra — cujas diferenças nem sempre aparecem à primeira vista — com o propósito de fazer o juízo certo.
Em qualquer esfera da vida, há uma porção de pessoas, de pronunciamentos e de produtos falsos. Lidamos com isso diuturnamente.
O mesmo problema invade e permeia a vida religiosa.
É impressionante a lista de coisas falsas que a Bíblia denuncia: testemunho falso (Êx 20,16), notícias falsas (Êx 23,1), acusação falsa (Êx 23,7), juramento falso (Lv 6,3), língua falsa (Pv 21,6), pena falsa (Jr 8,8), visão falsa (Jr 14,14), circuncisão falsa (Fp 3,2), humildade falsa (Cl 2,23), irmãos falsos (2Co 11,26), profetas falsos (Mt 7,15), mestres falsos (2Pe 2,1), apóstolos falsos (2Co 11,13), espíritos falsos (1Jo 4,1) e até cristos falsos (Mt 24,24).
O campo do discernimento é muito vasto e difícil. É preciso discernir entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira, entre a vontade de Deus e a vontade própria, entre os grandes momentos de Deus e os acontecimentos comuns, entre o Espírito da verdade e o espírito do erro.
Uma das parábolas de Jesus fala sobre o trigo e o joio.
Buscamos obedecer ao conselho do apóstolo: “Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1Tm 5,20-21).
Da Imitação de Cristo - Como se deve evitar o juízo temerário
1.Relanceia sobre ti o olhar e guarda-te de julgar as ações alheias. Quem julga os demais perde o trabalho, quase sempre se engana e facilmente peca; mas, examinando-se e julgando-se a si mesmo, trabalha sempre com proveito. De ordinário, julgamos as coisas segundo a inclinação do nosso coração, pois o amor próprio facilmente nos altera a retidão do juízo. Se Deus fora sempre o único objetivo dos nossos desejos, não nos perturbaria tão facilmente qualquer oposição ao nosso parecer.
2. Muitas vezes existe, dentro ou fora de nós, alguma coisa que nos atrai e em nós influi. Muitos buscam secretamente a si mesmos em suas ações, e não o percebem. Parecem até gozar de boa paz, enquanto as coisas correm à medida de seus desejos; mas, se de outra sorte sucede, logo se inquietam e entristecem. Da discrepância de pareceres e opiniões freqüentemente nascem discórdias entre amigos e vizinhos, entre religiosos e pessoas piedosas.
3. É custoso perder um costume inveterado, e ninguém renuncia, de boa mente, a seu modo de ver. Se mais confias em tua razão e talento que na graça de Jesus Cristo, só raras vezes e tarde serás iluminado; pois Deus quer que nos sujeitemos perfeitamente a Ele e que nos elevemos acima de toda razão humana, inflamados do seu amor.
com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
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