Não um otimismo fácil, que fecha os olhos à realidade, mas esta esperança forte que se ancora em Deus e que permite viver plenamente o momento presente.
O ano cristão começa com o Advento, tempo de espera. Porquê? Para nos revelar a aspiração que nos habita e para a aprofundar: o desejo de um absoluto, para o qual tende cada um com todo o seu ser, corpo, alma, inteligência, a sede de amor que arde em cada um, da criança à pessoa de idade avançada, e que a maior intimidade humana não pode apaziguar completamente.
Vemos frequentemente esta espera como algo que nos falta ou como um vazio difícil de assumir. Mas, longe de ser anormal, ela faz parte da nossa pessoa. É um dom, conduz-nos a abrirmo-nos, orienta toda a nossa pessoa para Deus.
Ousemos acreditar que o vazio pode ser habitado por Deus e que já podemos viver a espera com alegria. Santo Agostinho ajuda-nos quando escreve: «Toda a vida do cristão é um santo desejo. Deus, ao fazer esperar, alarga o desejo; ao fazer desejar, alarga a alma; ao alargar a alma, ele torna-a capaz de receber… Se desejas ver a Deus, já tens fé.»
O irmão Roger gostava muito deste pensamento de Santo Agostinho e é neste espírito que rezava: «Deus que nos amas, quando temos o desejo de acolher o teu amor, este simples desejo já é o começo de uma humilde fé. Pouco a pouco acende-se uma chama no mais profundo da nossa alma. Pode ser frágil, mas é uma chama que está sempre a arder.»
A Bíblia destaca a longa caminhada do povo de Israel e mostra como Deus lentamente preparou a vinda de Cristo.
O que na Bíblia é apaixonante é o fato de narrar toda a história de amor entre Deus e a humanidade.
Começa com a frescura de um primeiro amor, depois vêm os extremos e mesmo as infidelidades.
Mas Deus não se cansa de amar, ele procura sempre o seu povo. De fato, a Bíblia é a história da fidelidade de Deus. «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te esqueceria» (Is 49,15).
Ler esta longa história pode despertar em nós o sentido das maturações lentas. Por vezes desejamos tudo, no imediato, sem ver o valor do tempo de maturação! Mas os salmos abrem-nos uma outra perspectiva: «O meu destino está nas tuas mãos, Senhor» (Sl 31,16).
Saber esperar… Estar presente, simplesmente, gratuitamente.
Ajoelhar-nos para reconhecer, até com o corpo, que Deus age de forma muito diferente do que imaginamos.
Abrir as mãos em sinal de acolhimento. A resposta de Deus surpreende-nos sempre. Ao prepara-nos para o Natal, o Advento prepara-nos para acolhê-lo.
Mesmo se nem sempre conseguimos expressar com palavras o nosso desejo interior, fazer silêncio é já a expressão de uma abertura a Deus. Durante este período do Advento, lembramo-nos que o próprio Deus veio, em Belém, num grande silêncio.
O vitral da Anunciação, que se encontra na igreja de Taizé, mostra-nos Nossa Senhora totalmente recolhida e disponível: ela fica em silêncio, esperando que se realize a promessa do anjo de Deus.
Do mesmo modo que a longa história que precedeu Cristo foi o prelúdio da sua vinda à terra, também o Advento nos permite cada ano fazer uma abertura progressiva à presença de Cristo em nós.
Jesus discerne a nossa espera como um dia discerniu a de Zaqueu. Tal como a ele, diz-nos: «Hoje tenho de ficar em tua casa.» (Lucas 19,5)
Deixemos nascer em nós a alegria de Zaqueu. Então nossos corações, como o seu, abrir-se-ão aos outros. Zaqueu decide dar metade dos seus bens aos pobres. Hoje sabemos que uma grande parte da humanidade tem necessidade de um mínimo de bens materiais, de justiça, de paz. Durante o tempo de Advento, haverá na nossa vida alguma acção de solidariedade que possamos assumir?
Os textos lidos na liturgia durante o Advento expressam um sonho de paz universal: «uma grande paz até ao fim dos tempos» (Sl 72,7), «uma paz sem limites» (Is 9,6), uma terra onde «o lobo habitará com o cordeiro» e onde não haverá mais violência (Is 11,1-9).
São textos poéticos que despertam, no entanto, um ardor em nós. E vemos que «a paz sobre a terra» pode germinar nos actos de reconciliação que se realizam e na confiança mútua. A confiança é como um pequeno grão de mostarda que cresce e, pouco a pouco, se torna na grande árvore do reino de Deus por onde se estende uma «paz sem limites». A confiança sobre a terra é um humilde começo da paz.
irmão Alois
com minha benção
Pe Emílio Carlos+
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