28º DOMINGO COMUM, ANO C
«Se os homens se calarem, as pedras darão testemunho de Jesus Cristo».
A Liturgia da Palavra deste 28º Domingo Comum – C, apresenta-nos a Fé que se deve transformar em Ação de Graças. O anúncio do Reino de Deus é um anúncio de salvação, não apenas proclamado pelas palavras, mas também com as ações. Os milagres de Jesus entraram na perspectiva da inauguração de um Reino Messiânico.
Pelo seu conteúdo, o milagre é uma antecipação do Reino Escatológico, que só será revelado definitivamente quando o último inimigo – a morte – for vencido. Por meio dos milagres que Cristo operou, o poder vivificador de Deus irrompe no tempo, insere-se no mundo e declina para a morte. O milagre é uma ruptura na orientação normal das coisas e atinge-nos como sinal de transcendência. Manifesta que a salvação não é uma conquista humana, mas um dom de Deus e visa a suscitar a fé na pessoa de Jesus, para assim brotar, uma ação ou o gesto de ação de graças.
A 1ª Leitura, do II Livro dos Reis, diz-nos que as relações entre os sírios e os judeus eram difíceis e os dois povos guerreavam-se com muita frequência. Sendo assim, a vinda do general sírio, Naamã, até junto do profeta Eliseu, para lhe pedir a cura da lepra, supõe um grande espírito de humildade e a renúncia a todo um conjunto de costumes, tradições e ritos, que só pela fé se alcançam. Depois de curado, Naamã podia agradecer e exclamar :
- «Agora sei que, em toda a Terra, não há outro Deus senão em Israel. Digna-te, pois, aceitar um presente deste teu servo».(1ª Leitura).
Com efeito, ter fé, é desprendermo-nos de nós mesmos, das nossas convições e prestígio pessoal, da nossa fé pessoal ou de conveniência. Por ela se chega à salvação, isto é, ao encontro com Deus. Naamã encontrou Deus, e podia dizer :
- «Doravante jamais oferecerei holocaustos e sacrifícios a outros deuses, senão ao Deus de Israel».
E foi assim que Deus manifestou a Sua salvação entres os povos, como proclama o Salmo Responsorial:
- “Diante dos povos, manifestou Deus a salvação”.
Na 2ª Leitura, S. Paulo, retido na prisão, por causa de Jesus Cristo, escreve ao seu discípulo Timóteo, testemunhando-lhe a sua fé e confiança no mesmo Jesus Cristo, como o faz hoje também a cada um de nós, e afirmando que a sua convição pessoal de que a Palavra de Deus, não está sujeita às grades e ferrolhos duma prisão.
- “Eu estou a sofrer pelo Evangelho, a ponto de trazer cadeias como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está encadeada.(...) Se tivermos morrido com Cristo, também com Ele viveremos”.(2ª Leitura).
O discípulo, fiel ao mandato recebido, jamais calará a voz, ainda mesmo sob a ameaça da morte. É uma fé que se transforma em ação de graças.
«Se os homens se calarem, as pedras darão testemunho de Jesus Cristo».
O Evangelho é de S. Lucas que nos conta a cura dos dez leprosos, dos quais só o último foi agradecer, e era Samaritano. Jesus trouxe a salvação a todos os povos. O Seu Reino é Universal, extensivo a Judeus e a estrangeiros. Observando, porém, que estes estão mais abertos à Palavra de Deus do que aqueles, Jesus não deixa de lamentar a atitude orgulhosa e auto-suficiente dos que, uma vez curados, não mais apareceram Àquele que os curara.
- “Jesus tomou a palavra e disse : «Mas não ficaram limpos dez ? Onde estão os outros nove ? Não se encontrou quem voltasse, para dar glória a Deus, senão um estrangeiro” ? (Evangelho).
Jesus elogia o samaritano porque soube agradecer a libertação concedida pelo Filho de Deus. Nós também fomos libertos do pecado, mas não haverá perdão sem os Sacramentos, como não vale a fé sem as obras. O leproso do Evangelho volta, “louvando a Deus em alta voz”. O milagre abriu-lhe os olhos para o sentido da missão e da pessoa de Jesus. Dar graças a Deus, não tanto por ter sido satisfeito o seu desejo de cura, mas porque compreende que Deus está em Jesus Cristo e nele atua.
Reconhece que Cristo é o Salvador em quem Deus opera não só a salvação do corpo, mas a do homem todo. Isto é fé. Em Jesus, vê manifestar-se a glória de Deus, por isso, Lucas conclui a sua narrativa com a palavra de Jesus :
- “Levanta-te e vai, a tua fé te salvou”.
Salvou-o não só da lepra, mas salvou-o no sentido cristão do termo. A salvação da lepra é apenas sinal de uma outra salvação. A ação de graças do leproso curado nasce, pois, antes de tudo, da fé e não da utilidade; é contemplação jubilosa e gratuita do amor salvador de Deus, mais do que a alegria pela saúde readquirida. Só num segundo tempo inclui o reconhecimento, mas não o simples e cortês agradecimento por um benefício recebido. O Evangelho não nos quer dar uma lição de boas maneiras, de civilidade ; quer dizer-nos que a ação de graças é a atitude fundamental do homem que descobriu, na fé, que a sua salvação provém só da ação de Deus em Cristo.
Se a gratidão humana e a ação de graças divina não se identificam, é porém verdade que há continuidade entre uma e outra. Quando as relações pessoais se baseiam unicamente na utilidade e no prazer é muito difícil abrir-se à contemplação do amor gratuito de Deus.
A mentalidadae utilitarista e egocêntrica desvirtua os atos religiosos. Se tivermos perdido o senso do gratuito, se só agimos movidos pela esperança de algo ou pelo direito à recompensa, muito provavelmente não poderemos ter a experiência da Eucaristia. O homem de hoje precisa de descobrir o sentido do receber para se abrir ao agradecimento. A Eucaristia não é tanto uma lei a observar para ter a consciência em dia, nem apenas o alimento da comunhão fraterna.
É, como diz o termo, ação de graças sem outra utilidade, sem outro fim senão ela mesma; é a alegria que brota da contemplação do Deus que é grande no amor, que nasce da descoberta de sermos salvos gratuitamente. Corresponder, tornando e fé em ação de graças, faz parte essencial do plano da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica:
1503 – A compaixão de Cristo para com os doentes e as suas numerosas curas de enfermos de toda a espécie são um sinal claro de que «Deus visitou o seu povo»(Lc.7,16) e de que o reino de Deus está próximo. Jesus tem poder não somente para curar, mas também para perdoar os pecados : veio curar os homens na sua totalidade, alma e corpo, é o médico de que os doentes precisam. A sua compaixão por aqueles que sofrem vai tão longe que chega a identificar-Se com eles : «Estive doente e visitastes-Me»(Mt.25,36). O seu amor de predileção para com os enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção particular dos cristãos para aqueles que sofrem no corpo ou na alma. Ela está na origem de incansáveis esforços para os aliviar.
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