Como já afirmei em outras circunstâncias, os movimentos eclesiais e as novas comunidades, florescidos depois do Concílio Vaticano II, constituem um dom singular do Senhor e um recurso precioso para a vida da Igreja. Devem ser acolhidos com confiança e valorizados em suas diferentes contribuições, que devem ser postas ao serviço da utilidade comum de maneira ordenada e fecunda. É de grande interesse atual vossa reflexão sobre o caráter central de Cristo na pregação, assim como sobre a importância dos "carismas na vida da Igreja particular", fazendo referência à teologia paulina, ao Novo Testamento e à experiência da Renovação Carismática. O que vemos no Novo Testamento sobre os carismas, que surgiram como sinais visíveis da vinda do Espírito Santo, não é um acontecimento do passado, mas uma realidade sempre viva: o próprio Espírito, alma da Igreja, atua nela em toda época, e suas intervenções, misteriosas e eficazes, se manifestam em nosso tempo de maneira providencial. Os movimentos e novas comunidades são como irrupções do Espírito Santo na Igreja e na sociedade contemporânea. Então podemos dizer adequadamente que um dos elementos e dos aspectos positivos das comunidades da Renovação Carismática Católica é precisamente a importância que nelas têm os carismas e os dons do Espírito Santo, e seu mérito consiste em ter recordado à Igreja sua atualidade.
O Concílio Vaticano II, em vários documentos, faz referência aos movimentos e às novas comunidades eclesiais, especialmente na constituição dogmática Lumen gentium, onde diz: "Os carismas, tanto os extraordinários como os mais simples e comuns, pelo fato de que são muito conformes e úteis para as necessidades da Igreja, devem ser recebidos com agradecimento e consolo" (n. 12). Depois, também o Catecismo da Igreja Católica sublinhou o valor e a importância dos novos carismas na Igreja, cuja autenticidade é garantida pela disponibilidade a submeter-se ao discernimento da autoridade eclesiástica (cf. n. 2003). Precisamente pelo fato de que somos testemunhas de um promissor florescimento de movimentos e comunidades eclesiais, é importante que os pastores exerçam com eles um discernimento prudente, sábio e benevolente.
Desejo de coração que se intensifique o diálogo entre pastores e movimentos eclesiais em todos os níveis: nas paróquias, nas dioceses e com a Sé Apostólica. Sei que se estão estudando formas oportunas para dar reconhecimento pontifício aos novos movimentos e comunidades eclesiais e muitos já o receberam. Os pastores, especialmente os bispos, no dever de discernimento que lhes compete, não podem desconhecer este dado – o reconhecimento ou a ereção de associações internacionais por parte da Santa Sé para a Igreja universal (cf. Congregação para os bispos, Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos Apostolorum Successores, Capítulo 4, 8).
Queridos irmãos e irmãs: entre estas novas realidades eclesiais reconhecidas pela Santa Sé se encontra também vossa Fraternidade Católica Internacional de Comunidades e Associações Carismáticas de Aliança, associação internacional de fiéis que desempenha uma missão específica no seio da Renovação Carismática Católica (cf. Decreto do Conselho Pontifício para os Leigos, 30 de novembro de 1990, prot. 1585/S-6//B-SO). Um de seus objetivos, segundo as indicações de meu venerado predecessor João Paulo II, consiste em salvaguardar a identidade católica das comunidades carismáticas e alentá-las a manter um laço próximo com os bispos e com o Pontífice Romano (cf. Carta autógrafa à Fraternidade Católica, 1º de junho de 1998). Eu soube também, com alegria, que se propõe constituir um centro de formação permanente para os membros e responsáveis das comunidades carismáticas. Isso permitirá à Fraternidade Católica desempenhar melhor sua própria missão eclesial orientada à evangelização, à liturgia, à adoração, ao ecumenismo, à família, aos jovens e às vocações de especial consagração, missão que se verá favorecida pela mudança da sede internacional da associação a Roma, com a possibilidade de estar em um contato mais próximo com o Conselho Pontifício para os Leigos.
Queridos irmãos e irmãs: a salvaguarda da fidelidade à identidade católica e do caráter eclesial por parte de cada uma de vossas comunidades vos permitirá oferecer por toda parte um testemunho vivo e operante do profundo mistério da Igreja. E isso promoverá a capacidade das diferentes comunidades para atrair novos membros.
Encomendo os trabalhos de vossos respectivos congressos à proteção de Maria, Mãe das Igrejas, templo vivo do Espírito Santo, e à intercessão dos Santos Francisco e Clara de Assis, exemplos de santidade e de renovação espiritual, enquanto envio de coração, a todos vós e a vossas comunidades, uma especial bênção apostólica.
Domingo, 02 de novembro de 2008, 13h17
Zenit
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