A espiritualidade carmelitana é uma espiritualidade cristã.
Nada que pertença à espiritualidade cristã é estranho à espiritualidade carmelitana. O Carmelo teresiano, seguindo as pegadas dos grandes profetas Elias e Eliseu, vive na Igreja de Deus seu duplo espírito: contemplação e apostolado.
Digamos logo que a contemplação carmelitana tem uma finalidade eminentemente apostólica.
O Carmelo não permanece sobre o monte simplesmente para aí estar mais perto de Deus e fruir de sua presença na beatitude que é antecipação da realidade futura. Não! Permanece como Moisés, implorando força, coragem e perseverança para todos aqueles que trabalham na vinha do Senhor ou combatem, na esperança que não decepciona, a sua batalha.
Teresa, a grande, não teve outra inspiração quando projetou a Reforma, que foi uma espécie de “re-fundação” da Ordem.
Monte Carmelo-Jardim.
Lugar do desafio de Elias aos profetas de Baal (1 Rs 18,20-40). “Javé, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, saiba-se hoje que tu és Deus em Israel, que sou teu servo e que é por ordem tua que fiz todas essas coisas. Responde-me, Javé, responde-me, para que este povo reconheça que és tu, Javé, o Deus, e que convertes os corações deles!” Elias. Profeta. Na Bíblia, seu ciclo está em 1 Rs 17-19; 21; 2Rs 1 (seu
arrebatamento está em 2Rs 2). É o tipo de profeta itinerante, sem vinculação a um santuário, que aparece e desaparece de forma imprevisível.
De certo modo, Elias é um novo Moisés. Se Moisés foi o fundador da religião javista, Elias será seu maior defensor em momentos de perigo. Sobre a figura de Elias, duas coisas parecem fora de dúvida: Elias foi uma personalidade extraordinária, de grande influência entre o povo (pelo menos nos círculos proféticos posteriores), e salvou o javismo em um momento crítico, traduzindo para a vida o conteúdo programático de seu nome: “meu Deus é Javé”. Palavra de Deus.
A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da palavra de Deus quanto do Corpo do Cristo o pão da vida, e o distribui aos fiéis.
Vida em Cristo. Jesus Cristo é o Amado. O amor a Cristo e à sua humanidade, em Teresa de Jesus, culmina em um estado contínuo de vida cristocêntrica em que Teresa experimenta a realidade inefável que são Paulo descreve como viver em Cristo. A vida em Cristo abre o horizonte à contemplação e à vivência do mistério do Corpo Místico, a Igreja.
Eclesialidade- O amor eclesial, em Teresa de Jesus, nascido da experiência de uma Igreja machucada pela desunião, se encarnou em um serviço de oração e de renovação religiosa.
Teresa- Mística
“Vivemos em um Kairos, onde Cristo e o caos se encontram e nós devemos contrapor uma cristologia da natureza à ameaça que ela sofre uma cristologia segundo a qual o poder de redenção alcance não apenas o ânimo e a moralidade do homem, mas a natureza inteira. Do mesmo modo que a história, a natureza também é um lugar de contemplação da graça e espaço de redenção. Uma Cristologia que se estende até as dimensões cósmicas acenderá a paixão frente à terra ameaçada”. (JURGEN MOLTMANN)
Quando se fala que uma pessoa é mística muitos têm a impressão de que se trata de uma pessoa voltada para as coisas espirituais, porém de uma maneira exagerada, ou quase chegando ao limiar da loucura. Não é este o sentido com o qual queremos apresentar Teresa como uma mulher Mística, e falar de espiritualidade, mas sim como uma mulher contemplativa voltada e aberta às moções do Espírito de uma forma muito perfeita e equilibrada.
O Místico é uma pessoa de vida contemplativa, religiosa e cheia de experiências celestiais e divinas. Já o misticismo é a tendência que orienta o pensamento para a busca de um absoluto, com o qual pretende a pessoa se unir normalmente por meios simbólicos.
O misticismo envolve um conjunto de disposições, afetivas, intelectuais e morais, cuja meta final é a comunhão com Deus, o Todo Poderoso. Porém as Religiões, em geral procuram intensificar e exercitar o impulso místico com a prática da oração, do silêncio e do recolhimento, do jejum e abstinência, da castidade total ou periódica, visando com este comportamento chegar àquele estado de experiência Mística do Divino. Teresa foi uma mulher Mística em todos os sentidos porque tendeu sempre para o Sagrado, o Íntimo, a Comunhão com Deus e a busca da Santidade partindo do interior.
Teresa o prova quando mergulha no seu Castelo Interior para entrar em íntima Comunhão com Deus. Ardente e jubilosa entregou-se no Caminho de Perfeição buscando atingir o ideal contemplativo. Quando Teresa fala de “Contemplação” ela tem em vista os graus ou os estados de oração, de recolhimento, de quietação e de união íntima com o Senhor. Para Teresa a verdadeira perfeição espiritual consiste nesta união total da vontade humana com a vontade divina. Várias vias conduzem à união e podemos escolher uma via que seja mais de acordo com o nosso ser.
Teresa manifesta a sua vida mística ao longo da sua vida após o período que ela chama de sua conversão e fala com detalhes no seu livro Castelo Interior ou Moradas. Amar, para Teresa é dar-se inteiramente; ensinar. Amar será entregar-se no caminho da doação total e com generosidade ao Senhor Deus. Teresa quer Amar muito. Por isso para ela rezar não é pensar, mas amar muito.
Mas, ao coração que muito Ama é necessária a intimidade com o Amado.
Teresa está convencida de que o Amor só se paga com Amor.
Teresa foi dotada de graças especiais que a levavam a um maior desprendimento e a uma vida espiritual mais elevada. As graças místicas longe de levá-la a um empobrecimento da vida psíquica, levaram-na a experiências profundas que são para a alma Mística a fonte de obras muito grandes, magnânimas. Conheceu o Êxtase, os Arrebatamentos denominados “Vôo do Espírito” (o que hoje poderíamos falar em Repouso no Espírito), visões e revelações, locuções interiores e a grande experiência de ter o seu próprio coração Transverberado. Antes da fundação do Convento São José de Ávila, Teresa suportou no mosteiro da Encarnação, o assalto do Serafim que lhe transpassou o Coração.
A oração constitui para Santa Teresa o exercício essencial da vida espiritual. É possível desenvolver-se e crescer, por isso ela admite graus para mais e para menos nesta caminhada de oração. Estes graus têm crescimento, fases e etapas de crescimento. Teresa descobriu ainda maneiras ou modos de rezar. Tudo com muita simplicidade, porque ela não tinha métodos que ditavam essas normas para ela.
Para Teresa a oração é como um jardim, um sítio, uma horta, que precisa ser regada. Diz ela “Parece-me que se pode regar de quatro maneiras”: Primeiro- “Tirar água do poço- o que se faz com grande trabalho”. Teresa compara o esforço para rezar como quando tiramos a água do poço. Ela falava pela experiência do seu tempo, onde abundavam os poços de água. Como o rio fica fora dos muros da cidade, utilizava-se somente água do poço, porque naquele tempo não havia água encanada. Tirar a água de um poço requer grande trabalho. Porém, tirar a água do poço hoje, pode ser de várias maneiras, pois a modernidade facilitou tudo. Hoje temos poços artesianos movidos à energia elétrica e não fazemos esforço.
Segundo- “Tirar água com o uso de uma carretilha ou nora movidos por um torno – isto dá menos trabalho do que o outro modo e sai mais água”.
Terceiro- Água de um rio ou arroio; rega-se muito melhor, a terra fica bem molhada, não é preciso rezar com tanta freqüência e o jardineiro faz menos esforço, e se faz puxando a água por um canal. É bem mais farto.
Quarto- Água da chuva, esta é a parte do Senhor, sem trabalho da nossa parte. O Senhor rega, sem nenhum trabalho nosso, sendo esta maneira melhor do que todos os outros modos de regar.
E ela explica: Primeiro Grau – Os que começam a ter oração, podemos dizer que são os que tiram água do poço, com muito trabalho, cansaço para recolher os sentidos. É necessário ter a ajuda do Senhor e de pessoas experientes. É o início da oração vocal e da meditação. É a primeira fase, mesmo porque tirar a água do poço demora muito e é difícil.
A oração que chama de quietude, neste grau, a alma começa a se recolher e já atinge coisas sobrenaturais, porque de nenhuma maneira pode conseguir isso por si mesma, por mais que se esforce. Digo que a água está mais perto porque a graça se dá a conhecer com mais clareza à alma. Então, ela diz que nessa fase pode-se rezar com mais tranqüilidade e descansar um pouco, a água é mais fácil. Trata-se da oração meditativa, a pessoa reza, pensando no que fala e esta é a oração de quietude.
Os sentidos vão obedecendo, pois eles não se perdem e nem adormecem. A vontade se ocupa e fica presa daquele que sabe que a ama. A pessoa reza já pensando naquilo que fala, fica quieta. A água está mais perto, mais fácil, porque a graça dá-se mais claramente a conhecer. A vontade se ocupa e se torna cativa. A água das lágrimas que Deus dá, é graça de consolação, gozo e amor.
“Essa Oração é, portanto uma centelhazinha do Seu verdadeiro Amor que o Senhor começa a acender na alma, para fazê-la compreender que é esse Amor feliz. Essa quietude, esse recolhimento e essa centelha, quando são Espírito de Deus, e não gosto procurado por nós são compreendidos imediatamente por quem tem experiência, como uma coisa que não se pode adquirir.
Essa centelha é um sinal ou garantia dados por Deus à alma, indicando que já a escolheu para grandes coisas, caso ela se disponha a recebê-las”. “Nesses momentos de quietude mesmo os doutos devem descansar, repousando junto de Deus, deixando de lado o conhecimento. O saber mais tarde terá muita utilidade no serviço do Senhor. Contudo, diante da Sabedoria Infinita, acreditem-me que valem mais um pouco de estudo da humildade e um ato desta virtude do que toda ciência do mundo. Aqui, não há por que argumentar, e sim perceber com franqueza o que somos, e com simplicidade pôr-nos diante de Deus, que deseja que a alma se faça pequenina e ignorante, como na verdade é na Sua presença porque Sua Majestade muito se humilha suportando-nos diante de si”.
No segundo grau, rezamos, nos comovemos com aquilo que rezamos, experimentamos a presença de Deus e o desejo e estar bem quieto chamando-O de Pai…Deus é meu Pai….que bom! Obrigado Deus, você é meu Pai, é bom conversar com você. É fácil, é gratificante e às vezes nos leva ao choro… é o que gosto de fazer nos retiros, quando Jesus Eucarístico é adorado e as pessoas chegam, se aproximam e choram, lavam a alma.
Quanto mais choram mais feliz eu fico, porque é sinal de que houve a comunhão com Deus presente em nossa vida e quando Deus se faz presente é como se acendêssemos a luz num quarto cheio de bagunça. No escuro não vemos nada, mas ao acendermos a luz, logo vemos, até a tracinha no canto da parede, quanto mais o restante: os lagartos, os elefantes e outras coisas mais… É o linguajar de Teresa. “Neste grau a alma começa a se recolher e já atinge coisas sobrenaturais” . “Esta quietude e recolhimento da alma é coisa que se torna muito sensível pela satisfação e a paz que traz, pelo grande contentamento e sossego das faculdades e por um grande deleite muito suave”. “Esta oração é, portanto, uma centelhazinha do seu verdadeiro amor que o Senhor começa acender na alma para fazê-la compreender o que é esse amor feliz” .
O terceiro grau – É a água corrente do rio ou da fonte, com a qual se tem menos trabalho, mesmo que se tenha que encaminhar a água. É o Senhor quem praticamente faz tudo. Santa Teresa fala de rios de água viva. Diz que, nesse grau, a alma não precisa mais jogar o balde, não precisa mais puxar a manivela, mas tem que encaminhar aquela água até o terreno, até o local da plantação. É o sono das potências. Cessa a atividade espiritual. Nosso único trabalho, nesta hora, é fazer com que essa água chegue. Então, nós clamamos: Espírito Santo vem, vem… a gente chama, clama e quando Ele vem, nos traz sossego, paz, intimidade.
A água está chegando, molhando tudo e isso quer dizer que já estamos numa intimidade muito profunda com Deus. A alma Começa a ter gosto pela Oração e experimentar a suavidade de Deus. “É a água da graça que chega até a garganta. Não sabe ir adiante, nem como voltar no caminho. É o tempo dos louvores. A alma quer que todos entendam o gozo que experimenta e louva muito o Senhor.” “As faculdades só tem condições de ocupar-se em Deus; parece que nenhuma ousa mexer-se nem podemos fazer que se movam, exceto com muito esforço para distrairmos… vem então desordenadamente muitas palavras de louvor a Deus que só o próprio Senhor as pode corrigir. A alma fica desejosa de louvá-lo em voz alta, pois não cabe em si, estando num saboroso desassossego…”. Esta Oração é muito importante porque ela nos deixa com as virtudes mais fortes do que na Oração passada, a Oração de Quietude. Começa a realizar grandes coisas, pois o Senhor deseja que desabrochem para que se veja que têm virtudes. A humildade é muito maior e mais profunda do que antes. Pode-se ver com mais clareza que a única coisa que fez foi consentir que o Senhor lhe concedess
e favores e que à vontade os abraçasse.
O quarto grau – Santa Teresa diz ser a água do céu e nesse caso, parte do Senhor. É a água da chuva. Quem é que quando era criança não gostava de tomar banho de chuva?! Gostoso não é? É a água que vem do céu, a graça da oração. “Essa água que vem do céu para, com sua abundância, regar e fartar todo jardim, se o Senhor nunca deixasse de dá-la oportunamente vê que descanso teria o jardineiro. Contudo, enquanto vivermos, isso é impossível…”. “A vontade deve estar bem ocupada em amar, mas não percebe como ama. O intelecto se entende, mas não sabe como entende, ou ao menos não pode compreender nada do que entende…”.
Padre Emílio Carlos+
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