Os graus de oração nas diversas obras de Santa Teresa
1. LIVRO DA VIDA
Esta oração pode ser simples meditação da Palavra ou dos mistérios do Senhor, ou o pode e deve desenvolver-se em forma de atenção amorosa e calada (c.13,22).
2º grau: ingresso esporádico na oração mística (cc.14-15)
Chamada de "oração de quietude", nome que Teresa retém para sua exposição. Consiste num repouso pacífico e amoroso da vontade, fascinada pelo mistério divino. Fascinação que se lhe outorga intermitentemente, porém que constitui uma nova maneira de relacionar-se com o Amigo divino.
3º grau: várias formas de oração forte, pré-extática.
Santa Madre fala em "sono das potências", resultado de uma intensa infusão de amor na vontade. A santa recorre às imagens do "glorioso desatino", a "loucura celestial", a "embriaguez" da vontade, "verdadeira sabedoria e deleitosíssima maneira de a alma gozar" (cc. 16-17).
4º grau: união mística.
Toda a atividade da mente é unificada e todas as potências são unidas ao interlocutor divino. Expressa-se em fenômenos místicos como o êxtase, o "vôo do espírito" (cc. 17-21), os incontidos ímpetos amorosos, as feridas de amor (c. 29).
A escala de graduação dessas diversas formas de oração se mede por seus efeitos na vida cotidiana do orante. Mede-se também pela experiência que o orante adquire do Amigo divino e de seu mistério.
2. CAMINHO DE PERFEIÇÃO
Neste livro Santa Teresa fala aos jovens de seu primeiro Carmelo, portanto enfoca a oração nos principiantes e os graus ficam em segundo plano. É um contraponto ao Livro da Vida. Aos principiantes interessa:
a) Antes de tudo, a oração vocal: aprendizagem dos conteúdos da oração dominical ensinada pelo Mestre: o Pai Nosso (cc. 22...);
b) interessa-lhe iniciar-se na oração mental, que lho acerque mais e mais à Humanidade de jesus: aprender a olhá-lo, a escutar suas palavras, assimilar seus sentimentos, calar diante dele (c. 22);
c) interessa-lhe iniciar-se no recolhimento: interiorizar a oração, aprender a silenciar os sentidos exteriores, celebrar a fundo a Eucaristia e assim dispor a alma para possíveis formas de oração contemplativa infusa (c. 26-29);
d) segue um simples esboço das primeiras formas de oração mística que o Senhor dará a quem Ele quer, pois "não é porque nesta casa todas estão voltadas para a oração que todas haverão de ser contemplativas" (17,1). "Santa era Marta, e não dizem que fosse contemplativa" (ib.5). Isso sim, a todas lhes dará ele essa água viva, mesmo que não seja nesta vida, será na outra.
3. RELAÇÃO 5
Neste texto, resposta às perguntas de um teólogo consultor da Inquisição, Teresa enumera simplesmente os graus místicos e propõe os seguintes:
a) entrada na experiência da misteriosa presença de Deus (R5,25);
b) recolhimento infuso da mente (n.3);
c) quietude e paz da vontade (n.4);
d) "um sono que chamam de potências", que as arrebata sem impedir-lhes de atender simultaneamente às coisas da vida (n.5);
e) seguem os êxtases e arroubamentos com suspensão de todas as potências. O espírito, mesmo que por momentos, une-se a Deus (n.7-10);
f) "vôo do espírito" (n.11-12);
g) ímpetos de amor (n.13);
h) as feridas de amor (n. 17-18)
4. MORADAS
Primeiro grau: oração sumamente rudimentar. Se o orante se acha todavia imerso no exterior e na desordem interior, sua relação com Deus não poderá ser real; é como a relação do surdo-mudo com os outros (primeiras moradas).
Segundo grau: inícios de autêntica oração meditativa, fundada na nascente sensibilização para as palavras e as coisas de Deus, e para a relação com Ele: o orante é - afirma Teresa - como um surdo-mudo que começa a ouvir (segundas moradas).
Terceiro grau: normalização da meditação, e certa estabilidade de vida espiritual (terceiras moradas).
Quarto grau: simplificação e estabilidade na meditação, com intervalos de quietude infusa da vontade (quartas moradas).
Quinto grau: começa a oração de união, estados mais ou menos prolongados de profunda união a Cristo, à sua presença, a seus mistérios. Com a conseguente mudança no sujeito: mudança em sua psicologia, em seu relacionamento com Deus, e em sua atitude com os outros (quintas moradas).
Sexto grau: período de oração extática, rica em graças místicas de todo gênero (sextas moradas).
Sétimo grau: oração de união plena, de plena conformidade com a vontade de Deus. Misteriosa união a Ele, caracterizada pela experiência da inabitação trinitária (M7,1); pela experiência esponsal de Cristo Senhor (M7,2); pela especial maturidade do orante e sua mudança de atitudes psicológicas e teologais (M7,7) e pela total disponibilidade ao serviço dos outros, na plena configuração a Jesus (M 7,4)
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