«Mas agora ouve-me, Jaco, meu servo, Israel a quem escolhi: eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o seio materno e te socorre: Nada temas, Jacob, meu servo, meu querido, que eu escolhi. Vou derramar água sobre o que tem sede, e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes. Crescerão como erva junto das fontes, como salgueiros junto das águas correntes. Um dirá: ’Eu sou do Senhor’; outro reclamará para si o nome de Jaco; outro se tatuará no braço: ’Pertenço ao Senhor’, e receberá o sobrenome de Israel.» (Isaías 44,1-5)
A ideia de pertencer a alguém poder-nos-ia parecer apenas negativa.
Ao mesmo tempo, o Evangelho não parece convidar-nos a libertarmo-nos de toda a pertença, mas antes a escolher o mestre que servimos. E se refletirmos sobre isto, descobrimos que a nossa vida quotidiana é feita de pertenças múltiplas.
Algumas somos nós que as reivindicamos. Outras parecem-nos desejáveis, mas as portas que lhes dão acesso continuam fechadas ou abrem-se apenas depois de um tempo de espera ou após termos prestado provas.
Deus não age assim. Ele escolheu-nos «desde o seio materno», desde sempre, antes que tivéssemos tempo de fazer ou merecer o que quer que fosse.
Deus diz um sim incondicional ao povo a quem ele chama «seu servo», que ele «libertou» de uma dura servidão e que por isso lhe pertence.
Quando tomamos consciência deste sim de Deus, tornamo-nos testemunhas desta pertença e cantá-la-emos tal como as testemunhas neste texto; poderíamos juntar-nos ao canto de alegria que o Apóstolos dos gentios cantou e propunha à nossa alma: «eu sou de Cristo, eu pertenço Cristo».
II Coríntios 1,18-20 Um sim sem condições
Mas Deus é testemunha de que a nossa palavra dirigida a vós não é «sim» e «não.» Pois o Filho de Deus, Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo, não foi um «sim» e um «não», mas unicamente um «sim.» Nele todas as promessas de Deus se tornaram «sim» e é por isso que, graças a ele, nós podemos dizer o «ámen» para glória de Deus. (2 Coríntios 1,18-20)
Diz-se muitas vezes que aquilo que os seres humanos mais desejam é amarem e serem amados.
Ser amado, então, é ouvir um sim que eu não mereci, um sim que não resultou ou foi condicionado pelas vicissitudes da existência. Um sim destes foi sempre muito difícil de pronunciar pelos homens. Nos nossos dias, tornou-se quase impossível.
Neste texto, S. Paulo diz-nos que Deus disse este sim a cada um de nós. Na raiz do nosso ser, encontra-se o sim sem condições de Deus àquilo que nós somos, e é esse sim que faz de nós seres vivos.
O sim de Deus manifesta-se antes de mais pelo fato de existirmos. Ao criar-nos, ao chamar-nos à existência, Deus diz-te, a ti e a mim: Eu quero que existas, tu és precioso aos meus olhos. E, através da história contada na Bíblia, Deus mostra o seu sim ao continuar a oferecer ao seu povo a vida em plenitude, apesar das infidelidades.
Mas será que, um dia, Deus ficará cansado das nossas recusas?
Este sim definitivo, sem condições, que Deus diz em Cristo, torna possível o nosso sim de resposta. É por isso que S. Paulo continua: Graças a Cristo podemos dizer o nosso «amém», isto é, o nosso sim a Deus para a sua glória.
E dizemos sim a Deus ao dizermos sim aos homens, aos nossos irmãos e irmãs, ao afirmar a sua existência pelas nossas palavras e pelos nossos atos.
Quando descobrimos o sim de Deus em nós, deixamos as nossas ilusões para entrar na realidade da vida. Encontramos uma base que permite aceitar o que somos e o que não somos.
Além disso, tornamo-nos mulheres e homens que podem amar os outros com perseverança.
Viver no mundo contemporâneo dá por vezes a impressão de que andamos sobre areias movediças.
Antes de mais, precisamos de mulheres e de homens que indiquem a terra firme, ao darem testemunho de um sim que não é «sim e não».
Se vivermos deste sim que Deus nos diz em Cristo, poder-nos-emos tornar essas pessoas.
De que pertenças é feita a minha vida quotidiana?
Quais foram escolhidas por mim?
Será que acredito que Deus me escolheu?
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